Com materiais contaminantes em sua composição, os rejeitos provenientes do rompimento da barragem da mina Córrego do Feijão em Brumadinho, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, se aproximam da represa de Três Marias e já traz prejuízos a piscicultores que vivem da produção de tilápia na região. De acordo com a coordenadora do programa Água da Fundação SOS Mata Atlântica, Malu Ribeiro, os rejeitos chegaram ao reservatório Retiro Baixo, no último sábado, a cerca de 100 quilômetros do reservatório da Usina Hidrelétrica de Três Marias. Lideranças da atividade pesqueira na região já relatam queda na venda dos peixes antes mesmo da chegada dos rejeitos.

De acordo com Malu Ribeiro, a Fundação percorreu o rio Paraopeba em uma expedição de 15 dias para analisar a qualidade da água afetada, assim como a efetividade das membranas instaladas pela Vale para contenção de rejeitos. Segundo ela, além do metal pesado, a lama traz vários outros materiais contaminantes e nocivos à vida humana e animal. “Os rejeitos trouxeram consigo não apenas os metais, mas tudo aquilo que arrastaram: árvores, animais, pessoas e muitas coisas que acabaram criando um alto potencial de contaminação”, alerta.

Segundo ela, os rejeitos atingiram o reservatório Retiro Baixo no último sábado, próximo ao município de Felixlândia. Para a coordenadora, a chegada à usina de Três Marias e, consequentemente ao rio São Francisco, é questão de dias. “Tudo depende da chuva. Se chove na cabeceira do rio esses rejeitos descem mais rápido. Se o tempo car rme talvez demore até 30 dias, mas se chover muito isso diminui para dois ou três dias. De qualquer forma vai chegar. É impossível segurar o rio”, afirma.

Sobre as membranas instaladas pela Vale ao longo do rio Paraopeba para a contenção dos rejeitos, Malu Ribeiro arma serem pouco ecazes. Segundo ela, tratam-se de equipamentos ecientes na contenção apenas de material sólido ou que não se misturam à água, como o óleo. No caso dos rejeitos, os materiais contaminantes estão diluídos na água e, por isso, não podem ser retidos pela membrana. “As barreiras só pegam material em suspensão, ou seja, rejeito sólido. A eciência delas é baixa: são capazes de coletar apenas 50% dos rejeitos. O material contaminante líquido continua passando”, frisa.

Irreparável – O presidente da Federação dos Pescadores e Piscicultores de Minas Gerais, Valtin Quintino da Rocha, arma que, caso a represa de Três Marias seja afetada, o prejuízo para a atividade pesqueira na região é irreparável. “Não consigo nem calcular esse prejuízo. São muitas famílias que vivem a partir das águas do rio São Francisco”, afirma. Segundo ele, a venda de peixes já caiu na região mesmo que os rejeitos ainda estejam a cerca de 100 quilômetros de distância. “Muitas pessoas perguntam se a lama já chegou aqui e estão preocupadas em consumir o peixe da região”, afirma.

O presidente da Cooperativa dos Piscicultores do Alto e Médio São Francisco (Coopeixe), Leopoldo Álvares de Moura, arma que a divulgação de informações sobre contaminação das águas na represa de Três Marias já está repercutindo no negócio dos pescadores locais. “Ainda não diminuímos a produção, mas há muita gente especulando e isso está atrapalhando”, arma. Ele está otimista em relação à não contaminação das águas da represa e destaca que há muitos produtores que trabalham em cursos de água mais distantes e que são braços da represa. A Coopeixe é composta por dez pescadores que produzem 90 toneladas de tilápia por mês.

Agência – Em nota, a Agência Nacional das Águas (ANA) armou que ainda não é possível armar se os rejeitos advindos do rompimento da barragem em Brumadinho vão atingir o reservatório de Três Marias. O órgão arma que o curso do rio Paraopeba está em constante monitoramento realizado pela própria ANA, pelo Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam), pela Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM) e pela Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa).

Barreiras – Também por meio de nota, a Vale informou que conta com 48 pontos de monitoramento ao longo do rio Paraopeba até a foz do rio São Francisco. De acordo com a empresa, são realizadas coletas diárias de água e de sedimentos para análises químicas nesses pontos. A Vale também destacou que, nesse momento, encontram-se em operação cinco barreiras para contenção de rejeitos, sendo três na região de Pará de Minas e duas na região entre Betim e Juatuba. A empresa também estuda novos pontos para instalação de barreiras.