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Carma

Uma coisa é considerar o carma como uma consequência, a outra é atirar e desprezar o outro e dizer que é, simplesmente, o destino.

11/06/2025 às 08h25
Por: Redação
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Carma

Carma, em síntese, seria uma ação boa ou má que de alguma maneira vai postergar ou aproximar a possibilidade de salvação final. Isso prejudicando ou favorecendo a quantidade de transmigrações até alcançar o objetivo da pureza final.

Quando ouvi, pela primeira vez, alguém vaticinar como carma as dificuldades de alguém na vida, e que isso seria um tipo de purificação ou punição, fiquei imaginando que o carma, enfim, seria a explicação de todos os dilemas sociais. Portanto, tudo que acontece de mal com alguém como a pobreza extrema, ter uma cor de pele que torna o ser segregado dos outros, ou a má sorte poderiam ter no carma a explicação, e tudo estava resolvido. Se as coisas são assim é porque aquele ser carrega um carma causado por um mau ato anterior, alguma coisa em seu passado de transmigrações que fez com que o ser tenha um destino bom ou mau.

Destino também é uma história bem interessante, dizendo que as coisas são como são porque é destino. Isso, claro, dito por aquele que não sofre as ações maléficas do destino.

Isso nos leva à crueldade da História. A História é cruel, sendo esquecido que aqueles que fazem a História acontecer, e ser como ela é, são os próprios homens.

Todo o conjunto da obra nos leva a um único sentimento: o egoísmo. Afinal, se alguém consegue ultrapassar a porta da miséria para a opulência antes que ela feche sempre vê no outro o fracassado. Mesmo que tenha nascido em berço esplêndido com todas as regalias. Afinal, o destino foi bom para ele assim como a História, como escritor da História, logo, é uma questão de mérito: o mérito de ter tido sorte na vida.

Assim, destino e carma são as desculpas perfeitas para alguns se darem por satisfeito com um mundo desigual. A desigualdade é fruto dessas desculpas, minimamente, esfarrapadas. E o mundo caminha igual, com o destino e o carma sendo os vilões da História.

Brincar com palavras é muito divertido. Até porque elas dizem aquilo que queremos que elas digam. Podemos encontrar todas as palavras e todas as explicações possíveis para justificar o injustificável. Não podemos nos esquecer, no entanto, da voz que fala nessas coisas, causando uma naturalização. Ou seja, encararmos como naturais as desditas alheias, buscando no dicionário as desculpas para nossa falta de humanismo.

Essas transformações, segundo o Moksha, o ciclo de transformações, podem levar a alma até o grau de pureza final, a partir das boas ações que são praticadas, levando a libertar a alma do ciclo de nascimento, vida e morte. O Hinduísmo crê que uma vida de virtude leva a um plano superior e uma vida sem virtudes regride ao estado animal, do ser não humano.

Esse nível de animalidade não está, somente, na figura do animal, do ser não humano, a capa de animalidade envolvendo o praticante do mal. Talvez as atitudes animalescas de alguns humanos que matam por prazer sejam mais animalescas do que um animal que mata para se alimentar e não é, necessariamente, predador.

Uma coisa é considerar o carma como uma consequência, a outra é atirar e desprezar o outro e dizer que é, simplesmente, o destino. É o destino que atua ou nós destinamos o outro a viver no inferno?

 

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Nilson Lattari
Sobre o blog/coluna
É carioca, e atualmente morando em Juiz De Fora (Mg), escritor, blogueiro em www.nilsonlattari.com.br e Facebook/Blogdonilsonlattari. vencedor do 29° concurso de contos Paulo Leminski 2018, prêmios Uff de literatura 2011 E 2014 e prêmio Darcy Ribeiro 2014.

Finalista em livro de contos prêmio sesc de Literatura 2013 e em romance prêmio Rio de literatura 2016.

Menções honrosas em poesia, crônicas e contos. Foi operador financeiro mas lidar com números não é o mesmo que lidar com palavras. Ambos levam ao infinito, porém em veículos diferentes. As palavras, no Entanto, são as únicas que podem se valer da imaginação para um universo inexato e sem explicação.
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