Andava displicente pela rua da minha cidade observando e tentando entender porque as ruas andam sem brilho, sem entusiasmo.
Há quanto tempo não temos o festival da canção;
Até quando viveremos sem um projeto cultural,
Até quando a arte e os artistas ficarão abandonados?
Os jovens sem um programa esportivo efetivo,
enfim a população trancada com o cadeado covarde da política.
Quando me surpreendi com uma buzina estridente,
o que me fez pular rapidamente para a calçada.
Era um automóvel “Vemag” com placa de outra cidade
e uma placa de venda afixada no vidro.
Andei atrás desse carro, mas não consegui alcançá-lo.
Desci as ruas de baixo, o carro estava estacionado na Rua Matozinhos.
Não deu tempo de me aproximar, o carro saiu novamente.
Persegui esse carro por todo o centro.
Quando por acaso o encontrei parado perto da peixaria:
_desculpa pela buzina! Falou um grisalho pescador saindo do carro.
_não foi nada, estou procurando vocês por causa da placa de venda no vidro do carro!
_eu não queria vender não, mas minha esposa acha pequeno. Disse o pescador
_e quanto ta pedindo? Perguntei curioso
_é difícil falar em preço, mas vendo barato!
_barato, quanto? Insisti.
_é mixaria, só porque quase não uso!
_quase não usa? Mas que ano é? Fiquei curioso.
_olha, comprei novinho há dois anos, ainda tenho a nota fiscal
_não estou entendendo! E como tá o motor? Continuei perguntando.
_o motor não. O motor eu não vendo! Respondeu seco o homem.
_mas como? Como ele vai sair do lugar sem motor? Fiquei abismado.
_é que o motor eu comprei separado. Ele veio com dois remos. Disse o pescador.
_o senhor ta fazendo hora? Nunca vi falar que um carro vem com dois remos!
_carro, que carro? Não tô vendendo o carro não. Estou vendendo um barco. Olha a placa!.
Foi aí que dei a volta no carro e percebi que havia um anúncio grande escrito: ”VENDE-SE”
Mais abaixo tinha outra frase menor escrito: “um barco”.