Repudiado por moradores e lideranças da região, o projeto de instalação de uma usina solar flutuante pela Cemig no Lago de Três Marias (Região Central) foi discutido na sexta-feira (19/4/24) em audiência que lotou a Câmara Municipal. O projeto vem causando polêmica na região, e representantes da empresa foram vaiados durante sua apresentação, quando a reunião chegou a ser suspensa.

A audiência foi realizada pela Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG). A empresa nega, mas moradores, pescadores e segmentos ligados ao turismo afirmam que o projeto trará impactos socioambientais prejudiciais à região ao prever a instalação de placas solares fotovoltaicas no espelho d`água da represa, onde fica a usina hidrelétrica de Três Marias.

Esse temor já havia sido manifestado em audiência anterior realizada em outubro do ano passado, na ALMG. Na ocasião, a Cemig anunciou a intenção de começar a obra até o final de 2024, fato que motivou esta nova audiência, desta vez em Três Marias.

Antes da reunião na Câmara, o deputado Tito Torres, presidente da comissão, e a deputada Beatriz Cerqueira (PT) percorreram a orla do lago em visita técnica para averiguar áreas que podem vir a receber as placas solares, dificultando a prática de esportes náuticos, a pesca e o turismo, conforme as críticas ouvidas.

Mar de Minas

A região é conhecida como Mar de Minas por sua beleza e atração turística. Conforme a Cemig, as placas fotovoltaicas vão ocupar uma área de 55 hectares entre a Prainha e o Hotel Grande Lago.

Em meio aos protestos e vaias na Câmara Municipal, técnicos da empresa disseram que o empreendimento é de baixo impacto ambiental, defendendo que a energia produzida pela nova usina será suficiente para abastecer 86 mil residências.

Opiniões contrárias foram manifestadas por moradores como Geraldo Ferreira Coelho, dono de pousada na região, e Thais Kenia Castalo Branco, que prevêem efeitos negativos em vários aspectos. Eles destacaram que o lago é fonte de renda em várias frentes e segmentos importantes.

Segundo a Federação de Pescadores de Minas Gerais existem em Três Marias cerca de 500 pescadores artesanais que dependem diretamente da atividade.

Diálogo é cobrado

"Estamos fazendo o que a Cemig não fez, que é vir no território e escutar as pessoas", afirmou a deputada Beatriz Cerqueira, para quem o projeto vai destruir "um lugar maravilhoso" e importante para a cidade e para Minas.

"A Cemig pretende instalar as placas sem diálogo com a cidade, com impactos devastadores para a comunidade e para o turismo, ou seja, para a geração de emprego e renda, para a existência da cidade", disse ela, lembrando que muitas pessoas que vivem em Três Marias se organizaram em torno de atividades como o turismo e a pesca.

O presidente da comissão também defendeu a ida à região para ouvir a população sobre seu sentimento com relação ao projeto.

"A população realmente não concorda com essas placas nesse ponto que é turístico, elas inviabilizariam muito o turismo na cidade de Três Marias", afirmou Tito Torres, dizendo acreditar na sensibilização da empresa para com a preocupação dos moradores.

"A gente já sabe que há um impacto direto no turismo e para os pescadores caso seja implementado (o projeto), disse ainda o deputado.

Assessor da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico, Geraldo Lucas Salomão Alvarenga avaliou que qualquer mudança no projeto que venha a ocorrer a partir das críticas feitas na audiência depende de uma análise técnica da Cemig. "O governo tenta ajudar a população, mas a área técnica da Cemig é que deve dar resposta a respeito dessa situação", afirmou.