— Boa tarde amigo. Trouxe meu carro para vocês darem uma olhada. Acho que está vazando um pouco de óleo. 

Um dos mecânicos limpando meticulosamente as mãos com um chumaço de estopa, pede para o cidadão trazer o automóvel para dentro de sua oficina. 

Vale dizer, no entanto, que a oficina era uma das mais procuradas pelos endinheirados da cidade, quando seus carrões, na maioria das vezes importados, davam alguns probleminhas.  

Porém, a mencionada oficina era limpinha e organizada. Com seu piso de azulejo cor de marfim, não possuía uma gota de óleo ou graxa, pois imediatamente a qualquer respingo, funcionários contratados especialmente para esse fim, chegavam com panos e aspiradores para limparem o chão. Qualquer sujeira que pudesse sair de um escapamento ou quaisquer peças daqueles carros não duravam muito tempo no chão. 

Sem contar a limpeza com que os mecânicos trabalhavam. Ao invés de macacões azul-marinho ou verde escuro, trabalhavam com jalecos azul-bebê, que a qualquer sinal de sujeirinha, iam direto para um cesto que ficava nos fundos da oficina e no dia seguinte, bem cedinho, eram lavados e colocados ao sol para secarem. 

Os próprios mecânicos não ficavam com sujeira nas mãos, rostos, braços ou qualquer outra parte do corpo. Quando se sujavam, corriam para os chuveiros, também instalados nos fundos da oficina onde se banhavam demoradamente, ficando bem limpinhos e cheirosos. 

Voltando ao sujeito com o carro vazando um pouco de óleo. Quando ele apontou aquela Brasília marrom 1979, bastante detonada e com uma fumaça escura saindo pelo escapamento. Os mecânicos já se entreolharam e prepararam suas estopas. 

Ao abrirem a parte traseira, onde ficava o motor, havia óleo, graxa, um pouco de ferrugem, ninho de pombo e outras imundices que estavam espalhadas por todo lado. 

Como numa operação de alto risco, todos os mecânicos, com máscaras nos rostos, luvas e aventais, mexiam aqui, retiravam peças dali, trocavam uma repimboca, limpavam uma parafuseta...  

Os limpadores de chão nunca trabalharam tanto quanto naquela ocasião. Muitas roupas foram trocadas, muitos banhos foram tomados. A Brasília marrom 1979, teve que ficar dois dias internada, até que finalmente, o proprietário foi comunicado que o trabalho estava concluído e ela passava bem. Entretanto, quando foi saber o valor da cirurgia, ou melhor, do conserto, foi ele que quase teve que ser internado. Um valor altíssimo, praticamente quase o mesmo valor da Brasília. Porém, o motor do carro parecia que havia acabado de sair da fábrica.  

Como o carro era de estimação, o proprietário chorou bastante, mas acabou pagando o conserto em algumas prestações.   

Dias desses, meu vizinho chegou até a porta da oficina com seu Palinho Fire 2002, que estava com a junta do cabeçote queimada. Mas, quando viu que tudo era limpíssimo como um consultório médico, deu meia volta e levou o carro na oficina do Zezão Muquifa, que tem graxa e óleo por todos os lados, até na alma. 

— Oficina para mim tem que ter sujeira, senão, não passa confiança! – Disse meu vizinho. 

O coitado já levou o carro em quatro oficinas sujinhas, e até agora, não descobriram qual o problema de seu Palinho.