A região mineira de de Pirapora e Buritizeiro foi pega de surpresa com o anúncio de que uma nova usina hidrelétrica será contruída no rio São Francisco. A decisão, publicada em maio no Diário Oficial da Uniâo, causou indignação por ter sido tomada sem consulta pública à população local. 

Esta teme que outra barragem contendo as águas do Rio São Francisco possa píorar a já grave falta de água na região. Além disso, o projeto não prevê que esta é uma área que necessita de preservação e proteção. 

Pirapora e Buritizeiro já ficam consideravelmente próximas à hidrelétrica de Três Marias, uma grande barragem, que represa parte das águas que vêm da cabeceira do Rio da Integração Nacional e de seus afluentes. Esta construção, por sua vez, influencia constantemente nos níveis de água.
“Velho Chico Vivo”

Como resposta, houve a criação de um movimento unificado, de olho nos efeitos que a obra possa ter na cultura, economia e meio ambiente. O movimento “Velho Chico Vivo” tem entre seus adeptos artistas, jornalistas, pescadores, professores, advogados, ribeirinhos, estudantes, pesquisadores, ativistas ambientais e movimentos organizados, como o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) e a Comissão Pastoral da Terra (CPT).

Extinção de peixes

Para o produtor musical e membro do Movimento Velho Chico Vivo  Pedro Melo (Surubim de Bigode), os riscos são imensos e de vários âmbitos. Ele destaca que os impactos não se estendem apenas aos cinco municípios mencionados pela empresa no cadastro do empreendimento, mas a toda a Bacia Hidrográfica, sobretudo no trecho entre as Hidrelétricas de Três Marias e Sobradinho (BA) e às cidades de Pirapora e Buritizeiro. 

“Muitos desses riscos, inclusive, já foram apontados pela empresa no Cadastro do empreendimento junto ao Ibama, ou seja, a empresa já sabe que haverá problemas”, relata Melo.

“É importante mencionar que a instalação da UHE - Formoso prejudicará todo o ecossistema da região. Pirapora, que já sofre com a ausência de peixes como o pocomã e o surubim, pode se preparar para não ver certas espécies nunca mais. Como muitos deles usam os rios e lagoas marginais para se reproduzirem, mais um barramento no rio impactaria seu ciclo reprodutivo, causando extinção.”

Melo lembra que a área onde a barragem será construída é de suma importância para o Cerrado norte mineiro, com suas veredas e mata virgem. “O professor Ivo das Chagas já dizia que o Cerrado é o Pai das Águas. Um empreendimento desses afetará os ciclos de vida do Cerrado, influenciando no regime de chuvas e cheias do rio, impactando, inclusive, lençóis freáticos”, detalha.