Nunca um verbo fez tanta diferença. Ser pobre não é um estado de eternidade, porque um jovem que nasce pobre não tem essa condição por escolha própria. É tudo uma questão de nascer em uma família, numa comunidade ou em um país onde sua condição está mantida, não importa o quanto eles tentem sair dela, para estar pobre até o final da vida.

Nenhum pobre sonha em ser um profissional destinado a servir na condição mais humilde a outros. Pobres também sonham. No entanto, os seus sonhos têm um limite, até porque nem mesmo eles têm, penso eu, a dimensão de até onde podem ir. Cedo aprendem os seus limites, mesmo que guardem dentro de si um potencial que nunca será explorado em proveito próprio, mas dentro de uma limitação que a sociedade lhes impõe.

As mulheres, principalmente, em muitas sociedades em um estágio de total desamparo até aquelas mais adiantadas, mesmo assim estão sendo exploradas em algum grau. São aquelas as mais vulneráveis diante das adversidades.

Elas não são fáceis porque são pobres. Elas estão em estado de pobreza, o que não lhes permite qualquer negociação. A pergunta se estende a todas as mulheres que vivem neste planeta. Não podemos nos esquecer que mesmo aquelas que não se encontram em estado de vulnerabilidade estão vulneráveis. Não porque sejam pobres, mas porque são, simplesmente, mulheres.

Pobres lutam contra a falta de perspectiva, a falta de horizonte que lhes permita fazer dos sonhos uma realidade. E os sonhos são tão simples que nos faz pensar porque não se realizam, já que são favas contadas para aqueles que têm alguma porta de saída das suas condições. É que mesmo os sonhos guardam uma pobreza de horizonte e quando nem mesmo isso conseguem, os pobres de espírito denominam àqueles que se encontram em estado de abandono, como preguiçosos e perdedores.

Como são pobres aqueles que enxergam a vulnerabilidade daqueles que estão em estado de pobreza como uma possibilidade de extravasar os seus instintos mais nefastos! Até mesmo daqueles que defendem que a beleza seja um grau para ser explorada sexualmente, dando às feias a mera condição de um zero, de uma inexistência.

Já comentei antes que a natureza se vinga da sociedade. A visão de uma comunidade e seus filhos vivendo e morrendo na pobreza mostra uma natureza que se defende quando, dentre aqueles que estão naquela condição, existirá alguém, homem ou mulher, que preserva uma mente privilegiada e passível de, se adotada e cuidada, serem os responsáveis por descobrir grandes coisas como, por exemplo, a cura de doenças daqueles que de tão pobres morrem por se negar a respeitar e amar o próximo.

Quantos pobres de espírito e solidariedade se julgam superiores àqueles que vivem na pobreza, não por escolha mas por um destino que os negligenciou e os desprezou. Pobres de um tour macabro que vê na falta de sorte do outro uma oportunidade de se mostrar tão maus quanto são.

Se homens ou mulheres não estivessem em estado de pobreza seriam objetos de humilhações e tours? Carnes baratas para saciar a fome e a sede de privilegiados?

Estar em uma determinada situação é a senha para dizer que eles ou elas poderiam não estar.