Quando o amor passa ao lado ele é um trocar de olhares, um laço de cabelo que alcança os olhos, um corpo que mais aquece do que esfria, um sentir de peles que se encontram. É uma timidez, não uma ousadia, o que leva os amantes a se aproximarem, como se chegassem temerosos a um tesouro que o tempo escondeu, e que o destino, esse desatino, cumpre em determinar o encontro.

Não é um aproximar de conquista, cheio de palavras prontas, perguntas preparadas como se um jogo de xadrez se desenrolasse, tentando um ou outro serem os predominantes, uma luta de conquistador e conquistado. Mais um custo e benefício do que perdas e danos.

É mais um medo de não dar certo, que a certeza do cruzar dos olhares estimula mais do que a possível amargura de não se chegar lá.

É uma busca de palavras que vem mais do coração do que da mente, um balbuciar que o olhar esperançoso espera para dizer, novamente, e com fervor, o também te quero.

Está escondido no convite primário no cinema, no teatro, no encontro na praça, no sentar cômodo e confortável no banco do jardim. É um primeiro tocar de mãos, que se aproximam durante o caminhar, como se fossem de fato feitos um para o outro, um encontro depois de uma espera longa, na surpresa de se ver enredado em uma teia firme e, ao mesmo tempo, acariciadora e confortante da espera que, sentindo lá dentro, já se esperava.

Um vento que vem por trás da gente e nos empurra para o primeiro beijo, imaginado e curtido por tanto tempo, que imaginamos o gosto, o cheiro, o sabor de uma certeza quando os rostos se aproximam e se encontram.

Quando o amor passa ao lado a gente tem uma vontade enorme de ter certeza de que ele realmente nos pertencerá. O amor a si mesmo ama, por isso ele se dá tão bem.